‘A minha preocupação é fazer aquilo que eu amo’

Entrevista com o cantor e compositor Gílson Espíndola para o blog Matula Cultural.
Gílson Espíndola comemora 40 anos de carreira com DVD (Foto: Vaca Azul)

Gílson Espíndola comemora seus 40 anos de compositor em grande estilo. Vai lançar este ano o DVD “Dois Caminhos – 40 Anos de Música”, que ele acaba de gravar em um show ao vivo, realizado em 29 de maio, no Espaço Joseph, em Campo Grande (MS). Conhecido pela bela voz e afinação perfeita, Gílson aproveita o DVD para mostrar seu lado compositor. São 20 canções que o DVD vai trazer no repertório. O projeto para a gravação do DVD foi contemplado pelo Fundo Municipal de Incentivo à Cultura (FMIC) de 2018.

Algumas músicas são assinadas por Gílson sozinho e outras feitas em parcerias com Alexandre Saad, Marcos Mendes, Gilvandro Filho, Gilmar Xavier, Otávio Neto, Rodrigo Teixeira e Renan Nonato. Os convidados do DVD foram Paulo Gê (“Mil e Uma Noites”), Celito Espíndola (“Blues and Soul”) e Alexandre Saad (“Toada Desembestada”). Nayara e Rhay Espíndola, filhos de Gílson, participaram da música “Minto Não Te Querer” com uma coreografia assinada por Maria Helena Pettengill. A banda de apoio foi formada por Otávio Neto (teclados/direção musical), Adriel Santos (bateria), Erick Jadiel (baixo), Renan Nonato (sanfona), Ton Alves (guitarra), Junior Matos (sopro) e Alvani Calheiros (sopro).

Na entrevista, Gílson Espíndola comenta particularidades do DVD, que foi uma sugestão da filha Nayara para comemorar as quatro décadas de música. O aquidauanense também explica porque no DVD optou por gravar novas canções. Este será o primeiro DVD da carreira de Gílson, que lançou os discos “Tudo Azul”, em 1999, e “Mosaico”, no ano 2000.

Rodrigo Teixeira – Por que decidiu fazer o DVD neste momento?

Gílson Espíndola – Primeiro porque foi uma sugestão da minha filha Nayara. Ela sugeriu de eu registrar algo, afinal eram 40 anos de música. E eu também, faz uns cinco anos, que estou voltando à cena musical. Tenho percebido um movimento autoral bacana, uma gurizada nova mostrando suas composições. Isso tudo me animou a gravar o DVD. Pensei em meus 40 anos de produção musical. Por volta de 1978, quando comecei a compor. E no DVD eu coloquei um repertório que representasse estas quatro décadas, embora tenha mais músicas recentes, até para não ficar saudosista. Peguei algumas coisas mais antigas, para mostrar como eram as composições de antes, como “O Barco de Santa Maria”, do Alex Fraga e Paulo Gê, fazendo uma alusão ao Benvirá, que foi meu primeiro grupo profissional no final dos anos 1970.

Você é mais conhecido pelo lado de intérprete e grande cantor do que compositor. Este DVD vem também para equilibrar estes quesitos?

Eu acredito sim. Sempre fui um cara de grupo, nunca me vi como uma carreira solo. Mas eu comecei a trabalhar com música para sobreviver mesmo e aí eu era intérprete nos bares. A composição começou justamente de um resgate de parceria. Tenho muito mais parcerias do que só músicas minhas. Porque eu sempre gostei mesmo de dividir. No DVD eu trago então desde os parceiros mais antigos até os recentes.

Quais são os parceiros?

O meu primeiro parceiro foi o Alexandre Saad, quando fizemos “Madre Canaã” e “Toada Desembestada”. O Alexandre é dentista e tinha um consultório. E eu tinha largado a Educação Física e ia para lá no período da tarde. A gente fazia música com o Alexandre atendendo, entre uma pausa e outra. Foi uma sintonia muito legal de composição e fizemos um punhado de música. O Alexandre foi para Uberaba e eu enveredei mais para a área de comunicação, jingle e convivendo com outros músicos. Fiquei órfão de parceiro e fiquei 10 anos sem compor. Pensei que tinha secado a veia. E aí eu fui gravar umas imagens no Pantanal e aquele lugar é lindo demais. Inspirador. Aí eu fiz uma música e comecei a compor de novo. Mas, nesta busca de parceria, eu entrei no Clube Caiubi, que reunia compositores. Encontrei um cara chamado Gilvandro Filho, que é jornalista e tem música com Tavito e etc. Eu mandei um e-mail pra ele convidando pra fazer alguma coisa e dois dias depois ele me mandou dois poemas, incluindo “Dois Caminhos”, que foi a nossa primeira composição. Ficamos oito anos compondo pela internet, já tínhamos feito umas 12 músicas. Ele inscreveu “Carta ao Meu Pai” no festival em São Tomé das Letras e foi quando nos conhecemos então pessoalmente.

Mas um dos seus primeiros parceiros é da família. Como é isto?

É o Gilmar Xavier, meu cunhado, irmão da minha esposa Márcia. Minha primeira música foi com ele, chamada “Natureza”. Ele toca violão e era parceiro de chorinho do Jair Lara. O Giba é meu parceiro da época de adolescente e crescemos juntos. Somos primos, moramos um na frente do outro. E tem os parceiros novos, que é o Rodrigo Teixeira e o Renan Nonato. E tem também um samba com o Marcos Mendes que já era mais antigo.

Qual a diferença de fazer um trabalho em 2019 do que nas décadas anteriores?

Está mais fácil em termos tecnológicos e eu estou mais tranquilo. Conversamos muito eu e o Otávio Neto, que foi o diretor musical. “Tudo Azul” foi um disco em que todos gravaram na amizade. Foi quase que um disco colaborativo, com o Neto fazendo toda a base. Porque foi um disco híbrido, com a batera digital. Depois “Mosaico” teve verba do FIC-MS, o Celito Espíndola fez a produção musical e gravamos a base todas ao vivo. Eu gostei muito do resultado e por isso quis gravar o DVD dos 40 anos também ao vivo.

Este repertório do DVD está menos regional e mais romântico. Como você avalia esta questão?

Sempre fui cantor romântico. Nasci no samba canção, bolero, guarânia… quer povo mais romântico que o paraguaio? Por ter uma extensão vocal legal, eu consigo cantar várias coisas. A parte regional é muito forte. Quanto toca o 3×4 dá uma palpitada no coração que ninguém sabe de onde vem. Mas eu sempre tive este lado na carreira. Mas neste DVD tem uma parte pop na linguagem dos arranjos, mas tem várias canções voltadas para o ternário também, além de dois sambas.

Qual seu objetivo com este DVD?

A minha preocupação hoje é fazer aquilo que eu amo. O que vou deixar de bom aqui na Terra e eu acho que é a minha música. Tenho orgulho de dizer que em toda a minha vida artística eu nunca toquei uma música que eu não gostasse. Porque não é a minha verdade. Então o que vale é o que eu sinto e o que eu posso deixar de lembrança para as pessoas.

Por que “Dois Caminhos”?

Porque tudo na vida é “fifty-fifty”. Tem milhões de caminhos, mas vai sempre acabar em dois, esquerda ou direita, céu e inferno. Então “Dois Caminhos” é a encruzilhada da vida nestes 40 anos. Descobri que ou você deixa algo de bom ou não deixa nada.

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